Ela caminhou para muito longe do aprisco. Diante dela, paisagens deslumbrantes e pastagens enverdecidas. E não é só isso, ela pensou, a tal da liberdade existe! Pois poder ir e vir sem dar satisfação, tanto para a terra como para o céu. Em sua ingênua consciência, confabula: “como pude viver tão confinada e conformada nos contornos do aprisco?”.
Mas esse contentamento exacerbado está prestes a chegar ao fim: uma alcateia à espreita. Neste momento, calafrios correm pelo seu dorso. Não é possível, pensa ela desesperada, “logo agora que me sinto livre!” A adrenalina a leva correr muito e balir muito, mas é impossível deter os lobos. Eles se aproximam, e estão com muita fome. Em seu desespero, alguns questionamentos lhe vêm à mente:
· Como pude me afastar tão longe do aprisco?
· Por que não consigo ver o meu pastor?
· Quem poderá me socorrer?
Muito longe dali um simples pastor, de pés e mãos calejados e um coração voltado para a realidade das ovelhas, imprime uma jornada em busca da ovelha perdida. Ele sabe dos perigos e está consciente que, ovelhas e lobos não se combinam. Ele é a salvação da ovelha, mesmo sendo ela a decepção do pastor. Com coragem e determinação, põe a ovelha em seus ombros e com seu cajado, vai enxotando os lobos até conseguir dispersá-los totalmente. Exausto, mas feliz, retorna para a sua tenda, levando consigo a sortuda da ovelha.
Qual foi a sorte da ovelha perdida? Que item foi decisivo para a sua salvação?
Veja bem. É complexa esta análise e merece uma apuração mais detalhada. Pois, a luta que era da ovelha, foi na verdade do pastor, e a vitória que seria do pastor, foi da ovelha. A sorte da ovelha perdida pode ser resumida com a integridade do pastor:
· O pastor deu conta do desaparecimento da ovelha porque ele tratava cada indivíduo do seu rebanho com significado.
· O pastor tomou a iniciativa de procurar a ovelha perdida porque o pastor não contava as suas ovelhas, ele mantinha uma comunhão com cada indivíduo do rebanho.
· O pastor saiu de sua zona de conforto porque não era mercenário. Ele e o rebanho eram um molde só. A felicidade das ovelhas era a sua alegria.
· O pastor foi buscar a sua ovelha perdida porque o seu amor por ela autenticava a sua vocação.
· O pastor exerceu sua função porque vivia no rebanho, vivia do rebanho e vivia para o rebanho. Seu negócio inegociável era pastorear.
· O pastor travou um combate com os lobos porque não transferiu essa responsabilidade. Ele sabia que, quem ama cuida, vai atrás e se interessa pelo seu rebanho.
Quem vai atrás de uma única ovelha perdida não está colecionando figurinhas, mas salvando vidas. A ovelha merecia ser devorada, mas o pastor preferiu perdoa-la. Esse sentimento nobre salvou a vida da ovelha rebelde.
Sabemos perfeitamente da natureza de uma ovelha: ela não interage com o pastor, só ouve a sua voz quando está com fome e sempre prefere viver longe do aprisco, mas não se espera essas mesmas características do pastor.
Ovelha perdida, não abuse da sorte, porque, para você ser socorrida, o pastor teve que se desgastar muito andando por vales e malocas para te encontrar. Além disso, ele confinou todas as 99 no aprisco e impôs um jejum de comida e bebida no rebanho só para te encontrar. Portanto se decidires deixar a segurança do aprisco novamente, tenhas certeza que aquele que deixastes no aprisco era mesmo um pastor, não um oportunista mercenário. Porque, a sua vida, dependerá de quem você deixou para trás. Fica a dica.