Mata-me, por favor!
“Se vais me tratar assim, eu te peço: Mata-me, se tenho encontrado graça aos teus olhos; e não me deixes ver minha desgraça.” (Números‬ ‭11‬:‭15)‬ ‭‬‬‬‬‬‬‬‬‬‬‬‬
Por Administrador
Publicado em 05/06/2025 08:40 • Atualizado 05/06/2025 08:42
Geral

Servir a Deus faz sentir dor em lugares que nem imaginávamos que existiam. O vocacionado geme mais que sorri. Mas não podemos desistir. Eu mesmo estou consciente que sou um soldado do Reino, porque onde eu piso se torna um campo de batalha.

Fico a pensar sobre os inúmeros e extenuantes desafios que todos nós temos passado junto à obra de Deus, mesmo crendo e esperando nEle.  Será que desconhecemos os potenciais extraordinários contidos em nós, mas ainda não os reconhecemos, e por desconhece-los, sofremos? Será que Deus tem se esquecido que nos fez de uma substância extremamente simples e frágil: o pó da terra? A vocação não muda a condição de barro do pastor.

Chego a pensar que não existe um único lugar nesta vida que eu posso chamar de meu, pois o Senhor está sempre a dizer: aqui não é o seu lugar! Sempre o sentimento de peregrino e forasteiro é a minha melhor companhia e, a solidão, não é um acessório opcional, é uma condição imposta pelo céu!

Assim como muitos profetas, eu também desejei não ter nascido, face a presença nua e crua do mal diante de mim.  E, é aí, quando a alma se despede do corpo, quando os nervos se afrouxam e doem de roer os ossos, a morte passa a ser uma possibilidade real.  Cabeça baixa, poucos sorrisos e uma corcundez saliente são sinais claros que a vida está se esvaindo e o prazer de servir ao Senhor se torna um fardo pesado.

Parece que os inimigos são como moscas varejeiras, estão por toda parte, procurando um corpo imóvel para devorar.  O odor da diferença alerta mesmo quem mora pra lá de distante. O ornamento da vocação que habita em nós, incomoda os convidados para a festa.

Eu entendo o que Moisés quis dizer: “Se vais me tratar assim, eu te peço: Mata-me”. É que quando os cravos da vocação estão fincados em nós, a dor de ser rejeitado por um povo é o menor dos nossos dilemas.  O ferro quente que nos marcou, como gado miúdo, não pode ser removido da alma. Carregamos um sinal que declara a quem pertencemos e para que fomos escolhidos para fazer, e a mensagem é inconfundível: para uso exclusivo de Deus!

É impressionante que, a glória da sarça ardente, os fenômenos da libertação do Egito e os milagres no deserto não se sustentam para nós. Temos que viver tudo isso, dia após dia, como se essas coisas não tivessem efeito permanente em nossas vidas.  A vocação que age em nós se encarrega de nos convencer que, não precisamos subir ao Sinai para permanecer servindo ao Eterno. Obedecer basta!

O Cristo está sempre nos fazendo lembrar: “…eu lhe mostrarei quanto lhe é necessário sofrer pelo meu nome.” O apóstolo Paulo em I Co. 4:9-10 traduziu melhor essa condição do vocacionado. Ele descreveu o perfil:

·         Ficamos sempre por último, pois essa foi a vontade de Deus.

·         Condenados à morte.

·         Espetáculo ao mundo diante de todas as criaturas.

·         Loucos por causa de Cristo, mas o restante dos crentes sábios.

·         Fracos, mas os demais crentes fortes.

·         Desprezados, mas os demais salvos estimados.

Na verdade, vivemos um tempo onde o sentimento hedonista, o prazer sem limites, não tem como se impregnar em nós, e Deus não permite mesmo. Ele não aceita trocar o desconforto do crescimento espiritual que age em nós por um prazer qualquer terreno e passageiro. O mestre nos aguarda adentrar na eternidade com as mãos vazias, sem nenhum louro ou coroa sobre as nossas cabeças.

Tenho conversado com alguns pastores e todos são unânimes em afirmar: não está fácil pastorear.  Os crentes tem preferido mais as guloseimas do mundo do que o alimento celestial. O cardápio e o tempero do rei dos terrores têm feito os crentes salivarem.

Alguns obreiros estão bem. Mas o alto custo de suas conquistas ofuscou o brilho de suas vitórias. Eles colecionam mais cicatrizes que honrarias das conquistas. Trazem no corpo e na alma as marcas das nefastas batalhas.

·         O vocacionado, por se expor constantemente, é premiado com inúmeros opositores.

·          O vocacionado, por pregar sempre, perde o direito do perdão.

·         O vocacionado, por ser uma figura pública, perde o direito de ter a sua própria opinião.

·         O vocacionado, por participar de todas as atividades da comunidade, é responsável pelos erros e desencontros do rebanho.

Sabe, o que é mais desafiador, é não poder tratar os nossos “calos” como o mundo os trata. Queríamos desferir socos consagrados, tapas ungidos e empurrões cheios de graça, mas somos impedidos pelo céu que tem uma forma distinta de cuidar. Acaba nos usando para distribuir perdão, oferecer misericórdia e doar novas oportunidades. Agimos como se fossemos Deus e os outros são beneficiados como se fossem nós. Em outras palavras, o que tanto almejamos, o Eterno oferece aos outros. Por favor, mata-me! Deus pode fazer a nossa vontade e atender o nosso pedido, mas deixar de sofrer é bobagem, é tempo perdido. Não existe conforto quando alguém é um vocacionado!

·         A ideia, do fogo purificar o ouro não é esquecida por Deus.

·         A ideia, da pedra aperfeiçoando o corte da lâmina não é rejeitada por Deus.

·         A ideia, da água perfurar a rocha de tanto bater, é uma prática usada por Deus.

·         A ideia, de colecionar desacertos é extremamente apreciada por Deus.

·         A ideia, do joio crescer junto ao trigo é plenamente aceita por Deus.

Assim como foi com Moisés, muitas vezes, temos um povo que sonha em regressar ao Egito, que reclama do tipo de comida que estamos oferecendo, que duvida da idoneidade da nossa liderança e põem em xeque a nossa vocação. O entra e sai na privacidade da nossa “tenda”, torna a nossa vida uma audiência pública criminal interminável. Mata-me, por favor!

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